sábado, 2 de março de 2013

Particularidades Bonairenses

Dizem que no Brasil o ano só começa depois do Carnaval. Mas em Buenos Aires é diferente... Aqui demora um pouquinho mais. Os portenhos levam as férias de verão muito a sério e gente que, por exemplo, é autônomo, não pensa duas vezes: arruma as malas e se manda para Punta Del Leste, Brasil ou vai para a Patagônia, fugir do calor do cão que faz em janeiro e fevereiro.

Tentei insistentemente procurar escolas para meus filhos em fevereiro, o que no Brasil seria natural, mas aqui nenhuma abre antes do Carnaval. Nem mesmo a secretaria para matricular novos alunos. Até o faz-tudo e o jardineiro que prestam serviço aqui no prédio também estavam a meia carga.

Plaza Holanda: rosas predominam na área do passeio
Os que ficam aproveitam ao máximo os parques, que são muitos e bem cuidados, espalhados pela cidade. Levam sua canga, seu patins, sua “bici”, seu livro predileto, seu cachorro, algum lanchinho e seu chimarrão. Igualmente aos sulistas, aqui a erva mate domina as prateleiras dos supermercados. Tem mais opção do que café. Com cuia e garrafa térmica em mãos, estiram-se sob a grama e passam a tarde como lagartixas. Acho isso uma delícia.

E uma curiosidade ocasionada pelas mudanças climáticas: os portenhos não estão preparados para as ondas de calor que tiveram neste verão. Os ar-condicionados locais ou não são bem dimensionados para os ambientes ou são velhos e não funcionam bem. Já sai irritada de um restaurante porque simplesmente me recuso a pagar para ficar desconfortável.

Dias intermináveis

Tradição: chá da tarde do La Biela
Logo quando cheguei também sofri um pouco para me acostumar com os horários. Apesar de não ter diferença de fuso em relação ao Brasil, tirando o horário de verão que aqui não existe, o dia parece interminável. Só começa a escurecer às 20h e você acaba achando que é cedo sem ser. Com isso meus horários de café, almoço e jantar ficaram todos atrapalhados. E logicamente, o sono também.

Estava jantando coisa de 22h e por consequência, vinha a insônia pela falta de costume. Mas o engraçado é que para os padrões bonairenses isso é cedo. Os restaurantes, de maneira geral, só começam a abrir suas portas lá pelas 20h e o povo começa mesmo a lotar os bares depois da meia-noite – argentino é notívago.

Como os americanos, aqui o desayuno é a principal refeição do dia. Mas vale um brunch caprichado que um almoço. Dos ingleses, apesar das desavenças históricas, herdaram o interesse pelo chá da tarde. Feijão aqui só se for o do conto de fadas do João. Não achei em nenhum dos supermercados da redondeza. A panela de pressão foi fácil, tem em todo lugar, mas o precioso grão, quem achar me avisa.

Hermanos amáveis

Uma coisa que chamou a minha atenção foi como os argentinos fumam – do mais velho aos mais jovens. Os cigarros apresentam as mesmas propagandas antitabagismo que temos no Brasil, mas são ignoradas solenemente. Uma pena!

Show de tango de rua na Plkaza Intendente Alvear
Agora é preciso fazer justiça aos Hermanos. São muito educados e prestativos. Passam informações corretas e precisas, querem te ajudar como for possível. São tão didáticos nas explicações e recomendações que, alguma vezes, dá a impressão que nos acham obtusos. Meu apartamento estava cheio de avisos pregado nas paredes, alguns úteis e outros óbvios tais como: “não jogue algodões nem papéis na descarga para não entupir”, entre outras.

Tem um senhor que passeia com sua cachorrinha no parque no mesmo horário que eu e sem saber nada a meu respeito, depois de trocarmos poucas palavras, me emprestou livros e mandou posteres de cinema de presente para minha filha. Aliás, ter um cachorro aqui é uma ótima forma de socialização.

Mesmo amáveis, são econômicos nos cumprimentos. Beijinho aqui, só de um lado do rosto. Até me acostumar, vou ficar no vácuo ainda por algum tempo. São comedidos, mas são democráticos, e o cumprimento carinhoso também serve entre homens.

Agora começam as águas de março e os dias ensolarados de um momento para o outro dão espaço para as nuvens carregadas e tormentas. A temperatura já está um pouco mais amena e aos poucos os argentinos vão voltando para a rotina. Para mim, por enquanto, tudo ainda é festa.

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