segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mendoza Parte II: para comer e beber ou vice-versa


Faz tempo que estou devendo a segunda parte do meu post sobre Mendoza para falar, na realidade, da parte que mais interessa nesse destino: comer e beber, não necessariamente nesta mesma ordem. Apesar dos passeios incríveis que a cidade oferece, se você não gosta de um bom vinho, a viagem perde um pouco da graça e interesse porque é só lá é que você pode ver de perto e experimentar “in loco” os melhores Malbec produzidos no mundo.

A localidade de Lujan de Cuyo, onde estão as principais vinícolas da região, foi a primeira zona produtora das uvas Malbec na Argentina. O solo desértico, a altitude e o clima formaram uma combinação perfeita para o desenvolvimento da vinicultura e é lá que estão 70% das bodegas que recebem turistas no país.

Aliado a um bom vinho está a boa mesa, sempre. Uma coisa puxa a outra. E não há como ir a Mendoza sem, ao menos, experimentar um dos menus de passos oferecidos por algumas das vinícolas, no qual todos os pratos estão harmonizados com os vários vinhos produzidos no local.

Zuccardi em oito surpresas



A minha opção foi pelo vinhedo da Família Zuccardi, primeiro pela qualidade dos vinhos, logicamente, e depois porque a bodega oferece uma boa estrutura para receber turistas – uma das melhores, eu diria. A Casa del Visitante oferece uma infinidade de atividades relacionadas com os vinhos e os azeites produzidos alí, passeios que vão desde uma tradicional visita guiada com degustação até outros mais elaborados como um piquenique em um balão que sobrevoa um dos vinhedos. Mas se você tem medo de altura, não importa porque há opções de passeios em bicicleta e carros antigos. Tudo bastante atrativo.

Dependendo do período é possível ainda participar da colheita ou da poda dos parreirais também. Faça as reservas com antecedência pelo site do vinhedo, que funciona muito bem, com bom atendimento e presteza.

Minha opção foi pelo menu de 8 passos harmonizado (tem de até 12 passos) oferecido pelo restaurante da casa. E não me arrependi. Foi lá que tive uma das melhores experiências sensoriais na Argentina. E olha que tive muitas.

O menu muda conforme a estação do ano e os pratos são cuidadosamente estudados para combinar com as bebidas produzidas pela vinícola, com entradas com toques cítricos, como os nhoques de açafrão e laranja com fumet de truta al perfume de hinojo, para combinar com o Chardonnay e depois indo para carnes mais fortes para combinar com os tintos, destacando filé de porco grelhado, risoto de quinoa com tomates confit cogumelos e pontas de aspargos, com o Zuccardi Q Tempranillo. O mais surpreendente entre as sobremesas foi a tartelete feita de azeitonas negras recheada de humita (que como uma canjica, ou cural), com pipoca ao curry e sorvete de milho. Mas todos os outros cinco pratos estavam divinos e bem finalizados e apresentação impecável.

Pela sequência de foto dá para ter uma ideia do que estou contanto.




Maravilhas do 1884

Também é impossível ir a Mendoza e não conhecer o 1884, que fica dentro da Bodega Escorihuela, uma das mais antigas da região e tem no nome do restaurante a sua data de inauguração. Pelas mãos do renomado chef argentino Francis Mallmann, o restaurante já foi considerado o sétimo melhor do mundo na lista S. Pellegrino World’s 50 Best Restaurants, ranking anual feito pela revista britânica Restaurant Magazine.



O lugar é lindo, com uma arquitetura espanhola e com um jardim encantador, além de um forno imenso onde é possível, dependendo do horário, vê-lo em pleno funcionamento. Mallmann é considerado o rei da parrilla e domina a arte do fogo como poucos. Portanto, o cardápio oferece o que a Argentina tem de melhor: carnes de excelentes cortes, assadas no ponto certo. E, de minha parte, posso testemunhar que comi além de um porco suculento que nem parecia porco e, de sobremesa, o melhor Volcan de Dulce de Leche da minha vida, que vem com sorvete de doce de leite e uma "cucharada" do próprio. Muito doce? Também pensei que seria, mas estava equilibradíssimo, para meu espanto.



Perdi a cabeça

Mas nem só das vinícolas vive a gastronomia mendocina. A cidade e os arredores estão cheios de boas opções gourmets. Uma grata surpresa foi ter conhecido o Maria Antonieta, da chef Vanina Chimeno, restaurante que fica do ladinho do hotel Diplomatic, onde eu estava hospedada.

Cria do próprio Francis Mallmann, com quem debutou na cozinha profissional, Vanina trouxe para seu bistrô de forte inspiração francesa, daí o nome. O ponto alto são os ingredientes frescos e pratos corretamente elaborados, de forma simples – uma cozinha sem muitos mistérios, mas nem por isso sem graça.


Além disso, tem um menu versátil e oferece de café da manhã, muito bem comentado por sinal, até jantar. Tudo servido com muito charme. A cozinha também é abera, sendo uma ótima opção para quem curte a arte de cozinhar porque se sentar na parte de dentro dá pra ver de pertinho os cozinheiros trabalhando. Do lado de fora, o charme das mesinhas na calçada.

Fora esses três que comentei porque experimentei pessoalmente, eu listaria ainda o Azafrán, que passei pela frente e achei um charme (fica pertinho do Maria Antonieta). Mas faltou tempo e estômago para experimentar tanta coisa boa.

Veja também a Mendoza Parte I: Alta Montanha.




quarta-feira, 25 de junho de 2014

A nada mole vida de uma torcedora brasileira na Argentina

Começou o Mundial e a diplomacia acabou. Aquele argentino amável e educado, quando veste a camisa da celeste se converte automaticamente em um insuportável “hincha”. Esse indivíduo provoca uma reação química explosiva quando entra em contato com um torcedor brasileiro, consegue extrair de nossas almas o que temos de pior. E as provocações mútuas são fatais.

É como briga entre irmãos. São as piores, nos deixam mal por toda uma vida, e chega um determinado momento que não sabemos mais quem começou ou quem tem razão. Eu, que até pensei no começo em torcer pela Argentina como segundo time, já estou de um jeito que a única coisa que desejo nesse Mundial, mais até do que o título de Hexa, é que a Argentina seja eliminada do campeonato antes do Brasil. Basta isso para meu alívio.

Só um brasileiro que está morando na Argentina sabe o que é escutar um jogo do Brasil narrado por comentaristas argentinos. É tão irritante que você chega a sentir saudade do Galvão Bueno. Secam a seleção brasileira o tempo inteiro sem a menor cerimônia e profissionalismo. Se Neymar faz gol, somos “Neymar dependentes”, e o pobre do nosso artilheiro, por mais que faça, não veem nada de genialidade nele. Se a equipe contrária, seja quem seja, está no ataque e erra o gol, tem sempre um lamento, como se a própria Argentina tivesse perdido uma oportunidade. É pura paixão e nenhum estudo, nenhum comentário técnico tático.



Como se não bastasse, os piores “hinchas” foram para o Brasil e fizeram uma musiquinha só para nos zoar, que entre outras barbaridades diz que somos freguês da Argentina, que estamos chorando desde que perdemos o Mundial na Itália, além do clássico Maradona é melhor do que Pelé. E não importa que seja tudo uma mentira deslavada, o que vale mesmo é encher a paciência.

Como somos anfitriões do Mundial, a coisa piorou porque se sairmos Hexa, vai ser porque compramos a Copa – o juiz japonês que apitou o primeiro jogo é o trunfo. Se perdermos, será a vergonha do século porque “é impossível que o Brasil não ganhe uma Copa dentro de sua própria casa”, como já me disseram. A pressão é constante e não há saída. Nas mídias sociais, então, a coisa fica ainda mais séria. Já recebi um “Macaco detetect” em um comentário que postei na página de um jornal local.

Com tudo isso entalado na garganta, decidi aceitar o convite de um amigo chileno para ver o jogo do Brasil contra Camarões na sua casa, no centro da Recoleta, do lado do Hotel Alvear. Não sei porque cometi essa insanidade. Quando cheguei, Chile já havia perdido para Holanda e já se sabia, poderia pegar o Brasil, caso saíssemos como primeiros de chave. A coisa já começou a azedar daí porque, o chileno, com medo do que viria pela frente, começou a torcer contra o Brasil. Ok, totalmente compreensível.

Meu amigo chileno "mala leche" Jaime e atrás a
varanda da discórdia
Acontece que isso, mais a torcida do narrador argentino sem mãe, somado ao meu nacionalismo aflorado por estar longe de casa e a tudo que já tinha escutado, me caiu como uma equação mal resolvida. Eu fui entrando em estado de ebulição até que explodi quando saiu o primeiro gol do Brasil. Eu não tive dúvida: corri para a varanda do apartamento e dei um grito desses de lavar a alma: “goooooooooollll do Brasilllllll”!!!!

Fui imediatamente acompanhada por meu marido, que com ainda mais folego e potência, repetiu o heroico brado retumbante. Nossas vozes ecoaram entre as paredes dos edifícios em volta que senti as ondas sonoras reverberarem dentro do peito. Acho que toda Buenos Aires escutou aquele grito. Foi uma libertação. E só de pensar que um monte de argentino estava, naquela hora, se mordendo de ódio, me proporcionou uma das melhores sensações já vividas em um Mundia em minha vida.

Nossa audácia, claro, não foi bem digerida pelos hermanos. E fomos punidos com penalidade máxima. Não deu tempo nem de sofremos com o gol de Camarões, algum espírito de porco (ou de chancho) foi até o quadro de energia do edifício e cortou a luz do apartamento do chileno. A princípio pensamos que era geral, mas quando olhamos para o apartamento da frente, lá tinha luz. Quando fomos até o hall do andar, do lado de fora também tinha luz. Ou seja, foi um blackout seletivo. O chileno não sabia como corrigir o problema e, comovido com o nosso desespero, um outro amigo peruano, deu a ideia de irmos à sua casa, que ficava a umas três quadras e meia de onde estávamos.

Descemos pelo elevador e, pela televisão do porteiro (meu suspeito número 1), vimos que o jogo tinha empatado. Incrédulos, saímos correndo com o peruano pelas ruas até o apartamento dele, impressionados com a falta de espírito esportivo do maldito boicotador hermano. Quando chegamos e ligamos a televisão, foi justamente quando o Brasil fez seu segundo gol. Vendo que não ia ter jeito do Brasil perder de Camarões, o infeliz do narrador da TV Pública Argentina começou a torcer descaradamente para que o México goleasse a Croácia.

No final comemoramos efusivamente e até o peruano, contagiado com a nossa alegria, saiu pulando e nos abraçava feliz. Brindamos os 4x1 com um pisco (bebida original do Peru e que o Chile se apropriou) que foi para já ir tirando a zica deixada pelo chileno, porque foi só sair do apartamento dele que as coisas começaram a dar certo e até Fred fez gol. O comentarista, não tendo mais o que dizer, já saiu falando que o Brasil, do jeito que estava jogando, poderia perder dos “Rojos”. Desligamos a televisão para não darmos um prejuízo para o amigo peruano.

E no final das contas eu tenho até que agradecer ao argentino de ter me livrado de ver o gol de Camarões. Reduziu meu sofrimento e deixou a partida ainda mais emocionante e inesquecível. E valeu muito o grito. Para finalizar, deixo aqui a minha resposta a musiquinha ridícula...

Desejo a todos argentinos vida longa

Pra que eles vejam cada dia mais nossa vitória

Bateu de frente é só tiro, porrada e bomba

Aqui seu Messi não se cria e nem faz história.

Beijinho no ombro que o recalque passa longe!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Mendoza, parte I: Alta Montanha

Em sua edição de fevereiro, a revista Wine Enthusiast Magazine, uma das mais importantes publicações especializadas em vinhos, apontou Mendoza como um dos 10 melhores destinos de turismo de vinho do mundo. E não é para menos. A cidade tem muito mais a oferecer do que a bebida em si, que vale salientar, é da melhor qualidade. É lá, na região de Cuyo que está sendo produzido o melhor Malbec do mundo. Mas a enologia vem embalada num pacote que envolve uma gastronomia elaborada, turismo de aventura e de experiência para fazer valer cada Peso gasto.

De janeiro até o final março é justamente a melhor época para ir até Mendoza porque é neste período que acontece a vindima, que é a colheita das uvas, culminando com a Festa Nacional da la Vendímia, sempre no primeiro sábado de março. São os meses que a cidade fervilha com uma agenda de eventos intensa. Mas se não der para ser assim, não tem o menor problema porque em cada estação do ano a cidade oferece cenários e atrações distintas. Se no verão é possível fazer rafting e ver o melhor dos parreirais, no inverno é o momento de esquiar. E se as parreiras secam, o clima fica ótimo para beber e compensa tudo.

Lobby do Diplomatic
Hospedagem

Eu fui em novembro, quando já estava começando o verão e as uvas estavam madurando. Fiquei muito bem instalada no Diplomatic, que é um dos melhores hotéis da área. É lindo, confortável, com um café da manhã, que para argentino, está acima da média. Falo isso porque só os hotéis brasileiros oferecem aquela fartura toda. Então, já vá balizando suas expectativas para não se decepcionar.

Os quartos confortabilíssimos, mas os serviços de Spa que o hotel oferecia eram inexistentes. Não havia profissionais suficientes para a demanda e foi impossível encontrar horário na agenda. Mas o pior foi a má vontade do concierge em passar informações – imperdoável para uma hospedagem dessa categoria. Um ponto positivo é que as principais vinícolas da região oferecem degustações no próprio hotel, além de ele estar super bem localizado.

Mesmo sem a ajuda do simpático e prestativo concierge, foi difícil escolher o que fazer em meio a tantas opções: calvadas, participar de uma aula de cozinha nas vinícolas, piquenique em meio aos parreirais, caminhada, passeios de bicicleta, rafting até passeio de balão tem. Decidi centrar no básico para não perder o foco e ter tempo de curtir o essencial do destino que é beber, comprar vinho e comer bem.


Paisagens desérticas
Em busca do Aconcágua

Mas antes de cair de boca, separe um dia para fazer o passeio da Alta Montanha, que começa pela Ruta 52, antigo caminho utilizado pelo Exército Libertador para chegar ao Chile, por onde ingressamos na pré-Cordilheira e subimos até a fronteira entre os dois países. É um mergulho na aridez da paisagem medoncina, que tem como marco inicial as ruínas de um antigo portal, que indica o ponto onde o lendário General San Martín dividiu suas tropas para cruzar os Andes.

 
Há opção de ir pela Ruta 7, que é toda asfaltada e, portanto, mais rápida. Mas o legal mesmo é ir pela 52 e voltar pela 7. Assim o passeio fica mais completo. A partir das ruínas começamos a subida até Villavicencio, pasando pelos “Caracoles”. São 365 curvas, beirando o precipício, até chegar 3 mil metros sobre o nível do mar. 


No caminho nos encontramos com inúmeros guanacos, o primo irmão da lhama e vimos de perto o Hotel Villavicencio, que atualmente está fechado, mas sua fachada estampa as embalagens da água mineral mais famosa daqui, que leva o mesmo nome do lugar. 

Los Caracoles, uma curva para cada dia do ano
De lá, subimos até a cruz de paramillos, onde está um mirante que nos permite uma visão ampla da cordilheira dos Andes, com o Aconcágua despontando. É pura emoção vê-lo. 


Vista das cordilheiras vista da pré-cordilheira
O roteiro prossegue até o povoado de Uspallata, quando entramos de fato na cordilheira e subimos até atingirmos o povoado de Las Cuevas, na fronteira com o Chile, passando pelo túnel internacional. A rota acompanha o trajeto do Rio Mendoza.

Puente del Inca

Antes, porém, tem a Puente del Inca – um lugar impressionante, onde há muitos anos existia um hotel termas. Abaixo da ponte, uma formação rochosa natural, ainda se pode ver a termas, famosa por suas águas curativas com temperaturas de 34 a 38 graus centígrados. Já o hotel foi totalmente destruído por uma avalanche em 1965.


A cor amarela do monumento se deve a alta concentração de enxofre da água, capaz de petrificar qualquer objeto que for deixado por algum tempo exposto. E vários desse objetos estão à venda nas barraquinhas de artesanato, de bonés a bolas. Curioso, mas uma tranqueira.

De lá o Aconcágua também nos acompanha quase todo o tempo e podemos vê-lo tão de perto que dá para entender o fascínio que esse colosso exerce sobre os montanhistas do mundo inteiro.

A volta é pela Rota 7, passando pelo Potrerillos, um grande dique, com uma paisagem deslumbrante, sucesso nas temporadas de inverno por suas instalações e proximidade dos centros de esqui. Todo passeio leva um dia inteiro e é bem cansativo, então não elabore programações noturnas que vá além de um bom jantar.

Se eu tivesse tido mais um dia de estadia, o teria reservado para ir até San Rafael e ver de perto o Cânion de Atuel e se fosse passar a semana, teria ido ao parque de águas termais também. Como não tinha, preferi gastar o resto do tempo e do dinheiro nas bodegas e restôs, mas essa deliciosa experiência eu dividirei com vocês no próximo post. Aguardem.    

Vista do Aconcágua
Panorâmica de Potrerillos

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sucre de Fernando Trocca

Estava curiosa para conhecer o Sucre, principalmente, depois que soube que o Fernando Trocca é o chef do restô. Assim, não tive dúvidas quando a minha amiga Fernanda Macedo disse que queria jantar numa lugar especial quando chegasse em Buenos Aires para comemorar o aniversário da irmã. Fui lá e fiz a nossa reserva.

Fernanda e o Fernando
O Fernando Trocca é um dos chefs mais badalados de Buenos Aires. É ele quem treina e elabora os cardápios da cadeia de restaurantes mais exitosa da Argentina, o Gaucho, que tem 14 casas na Inglaterra, uma em Dubai e outra em Beirute. Além disso, é um dos chefs do Canal Elgourmet. Curto sua página no Face e até já arrisquei algumas de suas receitas.

O fato é que parece que o Trocca fez a fama, deitou na cama... E acho que deu uma cochilada. O restaurante é lindo, de fato. Ele trouxe para o ambiente do Sucre todo o clima nova-iorquino, de onde por anos comandou a cozinha do badalado Vandam. Iluminação intimista, ambiente refinado e moderno. E o que mais gostei foi do bar, com uma carta de drinks realmente interessante. Eles usam o mesmo gim do Floreria Atlântico, que adoro e já falei aqui.


No entanto, confesso que fiquei um tanto quanto decepcionada com a variedade de pratos disponíveis. A carne é o forte da casa, mas não achei nada extraordinário, a não ser o preço. Não gostei do ponto do meu corte e de acompanhamento, acabei comendo uma salada verde sem graça por falta de opção.

Devo ter pedido mal, mas o fato é que, para dezembro, quando Buenos Aires está em pleno verão, senti falta de algo mais leve e saboroso. A carta de vinho é boa, mas os preços, como tudo lá, são caros. Para brasileiro, considerando que estamos falando de um restaurante com chef estrelado, está muito bem, mas devo dizer que já comi melhor e pagando menos, ou pelo menos o mesmo tanto, em muitos outros lugares.

O melhor da casa é o bar
O atendimento também foi amável e ainda topamos com o Trocca em pessoa. E Fernanda, mais rápida do que pude imaginar, não perdeu a oportunidade de registrar o encontro, e isso foi a melhor parte da noite, além de obviamente da chance imperdível de estar com uma amiga tão querida. Não posso falar da sobremesa porque não pedimos, mas o restô fica do lado do Nucha, que é uma das melhores docerias daqui, e pode ser melhor opção para os horários de almoço.

Quanto ao Sucre, talvez não tenha tido sorte porque outras pessoas pediram outros pratos e gostaram, ou foram ao menos educadas. Talvez tenha que lhe dar uma outra oportunidade porque sei que Trocca tem muito mais para mostrar do que o que está alí. Talvez mude minha opinião se for novamente. Talvez, se você tiver tempo, também possa conhecê-lo em sua visita a Buenos Aires, e me diga o contrário... Mas só talvez, mesmo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Verão em Buenos Aires


Se tivesse que escolher um período para vir a Buenos Aires, certamente não seria no verão. Primeiro porque nos últimos anos a cidade tem sofrido muito com as ondas de calor. A última, em dezembro, foi a pior dos últimos 20 anos. Depois, porque a maioria dos argentinos vai embora da cidade (o que para alguns, pode ser uma grande vantagem). Mas como estou vivendo aqui e na minha timeline do Facebook só aparecia foto de praias e mais praias brasileiras, fui ver de perto o que o portenho faz nessa época, além de ligar o ar-condicionado na última e se mandar para Mar del Plata.



Com as temperaturas bem mais agradáveis por esses dias, como deve ser normalmente, fui dar umas pedaladas por Nuñez, que por ser o bairro mais afastado do burburinho da cidade, quase turista nenhum conhece. E me deparei com uma grata surpresa. A prefeitura armou um balneário no Parque de Los Niños, uma área verde às margens do rio da Prata. E achei excelente!



No espaço a prefeitura colocou a disposição da população, totalmente de graça, guarda-sol, espreguiçadeiras, chuveirinhos, brinquedos de água para a criançada, jogos para adolescentes como tênis gigante, guerra de água, campos de futebol de areia e vôlei, música, dança. Uma onda gigante é a sensação da garotada. A estrutura está muito bem montada e em cada estação tem recreadores organizando a brincadeira. 

Os acessos são controlados e bebidas alcoólicas não são permitidas. Também há espaços reservados para quem gosta de pescar.

Não dá para tomar banho no Rio, claro, apesar de muita gente ignorar os riscos de água contaminada e da existência de piranhas (las palometas). A praia urbana já é uma tradição por aqui e funciona desde 2009 e é uma prova de que evento popular não precisa ser pobre, feito de qualquer jeito. Cidadania é isso, entretenimento democrático e não populista, de qualidade. Lembrando que o governo da província nada tem haver com o Governo Federal. A praia urbana vai funcionar até 4 de março, das 10h da manhã até às 20h.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal em Buenos Aires


Galeria Pacífico na Florida: um raro frescor de Natal na cidade
Aqui em Buenos Aires, se não fosse por poucas lojas que expõem artigos natalinos em sua vitrine, você nem saberia que é Natal. Aqui não vi grandes decorações públicas nas ruas ou qualquer movimentação a respeito. Nem mesmo as propagandas da televisão são tão emotivas. O que me surpreendeu. Eu, que adoro Natal, senti falta até da Simone cantando “Então é Natal...” só para você ter ideia do nível de abstinência.

Aqui eles reservam esta data para realmente comemorar em família. E sem parentes ou velhos amigos por perto, a saudade aumenta. E tenho que dizer que senti também muita falta do... Panetone de chocolate. Aqui eles têm o torrone, que acho horrível, e o “pan dulce” que é um parente panetone, feito de frutas e castanhas, que não pode faltar de jeito nenhum. Mas o de chocolate, acho que é uma invenção brazuca mesmo, que não é muito chegado nas frutas cristalizadas. No máximo você terá que se contentar com um de doce de leite que encontrei na Havanna. É o que tem para hoje.

Programa de Natal aqui é fundamentalmente ficar em casa com a família. Tem um monte de restaurantes que oferece ceias variadas, mas até para isso eles são meio lentos e indecisos. Os cardápios, preços e etc só começam a ser definidos lá para segunda semana de dezembro e para quem quer se programar para vir, fica difícil. Talvez uma ida a Terra Santa, que é um parque temático ao estilo de Fazenda Nova, em Recife, Pernambuco, pode ser bacana, que é para lembrar de quem é de fato o dono da festa.

O problema é que Buenos Aires ferve nessa época. E não é eufemismo. As temperaturas chegam a 38 graus, um sol de rachar a moleira, um bafão que te dá até uma “fiaca” de sair de casa... A cidade fica em alerta vermelho por conta das “olas de calor”. Falta luz, água e este ano teve até saques em lojas e supermercados em muitas localidades, sinais mais aparentes de que crise, Natal e calor é uma combinação que deixa as pessoas meio loucas.

Quem pode, vai embora para as praias argentinas, uruguaias, brasileiras ou Punta Cana, que parece ser o destino da moda por aqui este ano, e a cidade, aos poucos, vai esvaziando. Quem fica, espera anoitecer para fazer alguma coisa e a cidade depois das 20h fervilha. Para se ter uma ideia, no dia 23 tem a “Noite dos Shoppings”, quando os principais centros comerciais ficam abertos até as 4h da madrugada, fazendo queimas relâmpagos que podem chegar a 50% do preço da etiqueta. É uma farra consumista.

Ao final, decidimos que passaríamos em casa. E pela primeira vez em muitos anos, passamos o Natal só nós quatro: eu, marido e filhos. E não foi nada mal. Acostumada a receber gente nessa época ou a ir a festas nas casas de amigos e parentes, achei que iria estranhar... Mas não. Fiz uma ceia gostosa, coloquei uma mesa linda, nos arrumamos, brindamos, trocamos presente e foi muito gostoso. A meia-noite, a vizinhança, que até então parecia indiferente a data, iniciou uma queima de fogos em diversos pontos, que podemos acompanhar do alto do nosso edifício.

Hoje, dia de Natal de fato, fiquei pensando no que poderia dar de presente aos argentinos e aos brasileiros. Coisas que os dois povos, certamente gostariam de receber um do outro. Por exemplo: o Lula, o nosso ex-presidente. Eles aqui o amam! Eu o enviaria em um belíssimo papel de presente. E nem precisariam nos dar nada em troca. Aliás, seria um favor não retribuir.
Inesperada queima de fogos meia-noite

Eu daria, aos meus amigos brasileiros, Bariloche, e em troca mandaria Búzios para os argentinos, ambos já estão sendo invadidos de qualquer maneira mesmo pelos dois. Seria legal ter no Brasil um balneário para esquiar de vez em quando, tomar chocolate quente. Eles nos deram um presentão esse ano, que foi o Papa Francisco. E tem outro presente que eles iriam adorar, mas esse não vai dar... A Copa. Devolvemos o papa, não tem problema. Alguém terá que dar consolo espiritual para eles no próximo ano.

Provocações futebolísticas a parte, a verdade é que só desejo coisas boas para os argentinos que tão bem me receberam – uma caipirinha para aliviar a tensão, dois beijinhos ao invés de um só, sandálias Havainas e coxinha com Catupiry. Para os brasileiros o cheiro de jasmim que invade Buenos Aires, um amor intenso como um Malbec e uma vida doce, como um alfajor.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Que tal um podrão?

O prato é um clássico americano, mas encontrou na carnívora Argentina apreciadores de primeira linha. “Las hamburguesas com papas” são uma paixão entre os “pibes” e não tem restaurante aqui que não ofereça um bom podrão. E não há como negar, tem seu valor! As opções são muitas. Mc Donalds e Burguer King, que aqui, como em outras partes do mundo, têm seus diferenciais (hambúrgueres de três andares, coisas monstruosas!) nem vou contar. Eu nem de perto conheci a metade das opções, mas já tenho alguns lugares que posso dizer que são diferenciados e valem o post.


Nac & Pop: preços baixos e irreverência
Nacional e Popular

Os argentinos também têm sua própria cadeia de fast food que faz do pouco caso com maior símbolo americano, o Mac Donalds, seu maior e melhor marketing. Com o slogam "Soy Nac, no Mac”, a cadeia Nac & Pop a La Plancha , abreviação de nacional e popular, se gaba de ser ao alcance de todos e de fazer o que o povo daqui gosta: tempero criollo (de campo, caseiro), muita carne e bondiola (um tipo de fiambre de porco).

Picância "putíssima"
No cardápio a descrição dos sandubões já adverte que a autenticidade ali não tem meias palavras. Os hot dogs são feitos com salsichas (panchos) e linguiças (choripanes) com 100% de carne, servidas defumadas e com pele! Como eles mesmos gostam de frisar! É coisa para gente sem frescura. Os queijos são de verdade e não plástico fundido (outra provocação que está descrita no cardápio) e os pães são de fabricação caseira. Os molhos têm graduação de picância que vai de “putíssima” à “puta madre” e são oferecidos à vontade, assim como as batatas fritas. E claro, servem bebidas alcoólicas e estão abertos 24h.


Podrão feito feito na chapa sem frescura
É lá que está um clássico da pachorra da madrugada portenha, aquela fome que assola logo depois da balada. O Paty Bajón vem com hambúrguer caseiro maxi, maionese, presunto e queijo – combinação preferida por essas bandas e que pode ser degustada por módicos AR$ 30,00 (dá menos de R$ 10,00). Os nomes dos sandubas aludem às tradições e personalidades populares da argentina, como La Pulga (Messi), El Diego (Maradona), Cumpassita, Milonguera entre outros. Os preços não ultrapassam AR$ 40,00. Vale a pena conhecer.

Hambúrguer gourmet

Mad: hamburgueria gourmet e ótimo point para drinks
Na outra extremidade a do Nac &Pop está o Mad. Com uma decoração metaleira ao estilo Easy Rider, o Mad é uma hamburgueria gourmet cheia de bossa e com ótimas opções de drinks. Uma Harley Davidson original e intacta exposta bem na vitrine do bar dá o tom da decoração: moderna e cheia de peças mecânicas e objetos antigos de quem certamente é um colecionador e apaixonado por motos. Tudo combina perfeitamente ao balcão de mármore às prateleiras iluminadas para destacar a seleção de bebidas de primeira linha.

Queijos e carnes nobres
Lá é possível comer até hambúrguer de carne de codeiro ou salmão, há alguns com queijos nobres como o gruyere e o acompanhamento vão das tradicionais batatas fritas aos anéis de cebolas ou ainda aboboras fritas. Os drinks que a casa oferece são um caso a parte e te convidam para mais que uma “boquinha”. É um lugar para badalar um pouco. Ver gente bonita e jovem, enquanto come e estende a noite. O preço é mais salgado para acompanhar a proposta, que é diferenciada.

De volta ao passado

Muu Lecheria: charme dos anos 50 e 60
No coração de Palermo Soho, em meio ao burburinho da Plaza Armênia, está a Muu Lecheria. Uma lanchonete que parece que saiu do filme De Volta para o Futuro. Balcão com cadeiras giratórias estofadas, toalhinhas quadriculadas, seguindo o estereótipo das décadas de 50 e 60 e música ambiente também temática. Até o papel do serviço americano é de uma banda que fez sucesso por essa época.

Para ir com a família toda e com os mascotes
A fila que se forma na entrada já revela que o lugar é disputado. Não só por causa dos hambúrgueres, mas por todo resto que eles servem lá. Panquecas americanas, waffles e um milk shake dos deuses de lindo e gostoso!!! É desses que servem para qualquer ocasião: café da manhã, almoço, jantar, lanche da tarde.

O preço é bem honesto e é para ir com toda família, junto com o gato, cachorro e o periquito porque o lugar ainda é petfriendly. Bichinhos de até 50 centímetros de altura são bem-vindos e eles oferecem bebedouros para os cachorros, que podem ficar na área externa. Programinha sem erro de sábado a tarde!