quarta-feira, 23 de outubro de 2013

L'Orangerie: requinte e tradição

Os salões do Hotel Alvear são relíquias dos tempos de ouro da sociedade argentina – la Belle Époque . Construído em 1932, aos moldes dos hotéis Ritz em Paris e Londres, o hotel está localizado no coração de um dos bairros mais tradicionais e nobres de Buenos Aires, a Recoleta, e não pode faltar nos roteiros de viagem de luxo, sendo um dos integrantes da cadeia The Leading Hotels of the World.  Durante três décadas – 30, 40 e 50 – quem queria ver e ser visto tinha que obrigatoriamente participar de seus chás da tarde, saraus e bailes. O Alvear está para Buenos Aires como o Copacabana Palace está para o Rio de Janeiro.

Minibagels de salmão. Meu preferido.
É lá que está o restaurante L’Orangerie que, seja pela beleza do Alvear ou pela oportunidade de fazer você voltar no tempo, se tornou um ponto obrigatório para quem visita a cidade, seja para disfrutar do brunch aos domingos ou para o tradicional chá da tarde, servido há mais de 70 anos por garçons e garçonetes com suas luvas brancas, como manda a tradição.
Evento para reunir amigas

Além do salão com decoração requintada, com lustres de cristal, as mesas também estão espalhadas pelo famoso jardim de inverno – Jardin d’Hiver - que permite a passagem da luz natural, tornando o ambiente ainda mais único e especial.
Além dos talheres e todo serviço de prata, o chá servido em louças estilo antigo confere ainda mais charme à ocasião. Tudo é minuciosamente pensado e cuidado para agregar requinte, o que torna a parte gastronômica em si, um detalhe.   


Ambientação perfeita
Não que os petit fours sejam ruins, longe disso. Mas se a intenção é provar da melhor pâtisserie de Buenos Aires, eu diria que não vale o preço que cobram porque existe um número infindável de cafés na cidade onde é possível tomar um chá com bolos, brioches, tão bons ou mais, pagando muito menos. Também o serviço não é estilo bufê. Vem uma variedade de cada iguaria e não há reposição e o que pedir a mais será cobrado a parte. Mas tenha em vista que a proposta é outra e mesmo achando outros chás mais fartos e baratos, nenhum outro terá o mesmo simbolismo e glamour, certamente.

São duas opções de cardápio e o que diferencia um do outro é basicamente o preço, que aumenta se você quiser tomar uma taça de champanhe. Você pode escolher chocolate quente, café e suas variações ou chá – inclusive há um blend exclusivo que leva o nome do hotel feito com chá preto, amêndoas e pétalas de rosas. Para acompanhar, finger foods doces e salgados, com destaque para os scones fresquinos e mornos – mais inglês impossível. 
Cuidado nos detalhes: um mini porta adoçante


O chá do Alvear é servido diariamente de 16h30 até às 19h, exceto aos domingos, que começa às 17h porque o brunch vai das 12h30 até às 16h. Convêm reservar uns AR$ 300,00 por pessoa para a brincadeira e faça a reserva antes. Em Reais, dependendo do câmbio, sai menos de R$ 100,00, então vale a pena.

Reveillon 2013


Vale dizer que o Alvear já lançou o seu pacote de Reveillon de gala 2013. Gala mesmo! Com direito a três noites com café da manhã, recepção de queijos e vinho ceia completa onde o traje é smoking e dresscode. Os preços variam de USD 781 a USD 983, dependendo da categoria do apartamento escolhido, mais 21% de imposto. Isso é que eu chamo de passar o Ano Novo em grande estilo.

Todas 'muy cnacheras' com o maítre

sábado, 5 de outubro de 2013

Para tomar um bom trago escondidinho

Floreria Atlantico: speakeasy no melhor
estilo novaiorquino
Buenos Aires, com suas construções centenárias e um certo clima noir nas ruas, é o cenário perfeito para uma moda muito nova-iorquina: os speakeasy, aqueles lugarzinhos escondidos, sem qualquer letreiro, que os “locais” sabem que existe e vão fazendo a propaganda boca-a-boca. Assim é o Floreria Atlantico, um bar que fica no subsolo de uma floricultura no centro da cidade, que vende além de flores, discos de vinil. 

Para acessá-lo é preciso entrar na floricultura e descer uma espécie de alçapão, como se você estivesse entrando num esconderijo de gangsteres, em plena lei seca. Dentro, a sensação é que estamos em um barco naufragado, úmido, com iluminação precária, mas que na verdade se trata de uma desconstrução muito bem estudada. Do lado de fora, com exceção de uma fila de espera, nada indica que ali está um dos melhores barmen de Buenos Aires, talvez o melhor, Renato Giovanoni, conhecido como Tato. O lugar está na quinta colocação do ranking gastronômico do Clarin.
Aniversário de Míriam em grande estilo 
Míriam e Tato, o mestre das misturas etílicas

E a oportunidade para conhecer o bar não podia ter sido melhor. Minha amiga brasiliense, Miriam Brunet, resolveu comemorar seu aniversário comigo, em Buenos Aires, e achei que um bom brinde poderia marcar a data com louvor. E se não fosse o santo forte que acompanhou Miriam durante toda sua visita, nossa aventura teria acabado na porta de entrada. Para conseguir uma mesa, a reserva teria que ter sido feita com pelo menos dois dias de antecedência.

Insistente que somos, resolvemos entrar e disputar um lugarzinho no balcão, repleto. Do nada, Miriam, que detalhe, não fala uma palavra em castellano, logo conseguiu ‘negociar’ com um frequentador, que amava o Brasil e já estava de saída, três lugarzinhos estratégicos, em frente ao caixa. De quebra, conseguimos ser atendidos, em português, pelo próprio Tato, que em consideração ao “cumple” de nossa visita, lhe fez um drink super diferente, com gin, pepino, pomelo, e que estava uma delícia. Nem tinha nome, fez ali na hora para ela.
Gin Principe de
los Aposteles

Vale dizer que o gin de lá é uma criação do próprio Tato, feito com erva mate, pomelo rosado e eucalipto – a mistura não poderia ser mais argentina. Eu experimentei um drink chamado Madame Ivonne, feito com champanhe Chandon Brut e mais algumas outras coisas que minha mente etílica não deixou registrar, mas que eu garanto: estava maravilhoso.

Blood Mary: detalhe do copo
O Blood Mary que Ricardo pediu veio temperadíssimo (drink para macho!) e foi servido em um vidro de geleia e com bombilla de mate – um charme. Pedimos mais um drink cada um e todos ótimos.

Para completar, de uma parrilla a lenha saem algumas delícias do fundo mar, como o polvo com limão e batatas que pedimos de entrada e um peixão assado que dividimos entre os três. Tem opção de carne também, lógico. O custo não pode se dizer que é uma pechincha – gastamos em torno de AR$ 150,00 por cabeça, tendo cada um tomado dois drinks e mais a comida, daria uns R$ 50,00 por pessoa, mais ou menos. Para brasileiro sai em conta e o benefício vale muito a pena.
Peixe na parrilla


O serviço é bom, os garçons atenciosos e simpáticos, mesmo com o bar lotado. E Miriam, com o sorriso brasileiro marca registrada, quis agradecer e perguntou o nome do rapaz que nos servia. Ele, respondeu de pronto: “yo, Martin”. E ela, emendou, “foi um prazer, Chômartin, obrigada!”. Ele deu a melhor risada da noite e nós todos também. Bom humor é um idioma universal e não tem preço!



Detalhe do drink criado para o niver de Miriam