sábado, 24 de agosto de 2013

Fui alí em San Isidro...

Vista do Passeo de Los Três Ombués
Chegou o final de semana e eu estava à toa na vida e chamei o meu amor: “vamos alí em San Isidro”. E não é que ele topou? Decisão acertadíssima porque foi um passeio tão gostoso que repetimos no final de semana seguinte. Pegamos nossas “bicis” e sem qualquer compromisso, fomos até a estação de trem da Juramento. Você pode ir também pelo Tren de La Costa, que é uma linha turística que sai da estação de Maipú e vai até Tigre. Mas obviamente, a linha normal de trem custa infinitamente mais barato, está mais a mão, e os vagões reservam espaço para acomodar as bicicletas.
Catedral deu origem à cidade

San Isidro é uma cidade lindinha que faz parte da Grande Buenos Aires. Sua história está intimamente relacionada à Catedral de San Isidro. O desenvolvimento da cidade só se deu porque o Capitão Domingo de Acassuso, proprietário desse belo pedaço de terra doado por Juan de Garay, recebeu em 1706 a autorização para transformar a capela de sua fazenda em um templo público. Foi entorno do templo que começou a se formar um povoado, dando origem a cidade, que entre os séculos XVIII e XIX viria a se tornar o refúgio de veraneio das famílias endinheiradas de Buenos Aires.

A tal capela é hoje a belíssima catedral. Construída 1895 e reformada recentemente, o templo exibe uma arquitetura neogótica, que te obriga a contemplá-la olhando para o céu, como para lhe lembrar da existência divina. É considerada uma das igrejas mais bonitas da Argentina e ostenta lindos vitrais franceses e alemães que filtram luzes coloridas para dentro da nave central.

O melhor pancho da redondeza

Para uma boquinha, vá ao La Pancha
Como ocorre em qualquer cidade do interior, em frente a igreja há uma pracinha e em San Isidro não é diferente. Saindo da catedral tem a Plaza Mitre, onde todos os Sábados, Domingos e feriados, para não fugir a tradição argentina, há uma feira de artesanato local com roupas, comida, artigos de decoração, acessórios entre outras mil coisinhas.
Pacho com queijo Brie

A cidade oferece uma infinidade de cafés, restaurantes, mas foi lá que comi um dos melhores cachorros-quentes de minha vida. O La Pancha tem salsichas alemãs e austríacas (as da Argentina não são saborosas), e com molhos e acompanhamentos maravilhosos, como queijo Brie e cebolas carameladas. O tradicional Choripan (o cachorro-quente de chorizo) vem com um molho de pimenta doce.

O lugarzinho é pequeno, limpo com um serviço simpático e ainda com uma ótima música de fundo. Parece que você se tele transportou para uma lanchonete alemã descoladinha. O melhor de tudo é que come-se bem e paga-se pouco.

Hóspede de Victória O’Campo

La Porteña
O mais bacana de San Isidro é você buscar as casas-quinta que ainda existe aos montões pela cidade, e algumas fazem parte do casco histórico de San Isidro. Umas viraram museus, outras escolas e outras são propriedades particulares ainda.

Jardim do Museo Beccar
No Passeo de Los Três Ombués, além do mirante que permite uma visão até a Ribeira, estão três quintas que marcam bem essa história e a arquitetura colonial da época: a Quinta Los Naranjos, uma casa privada cor-de-rosa e que poderia estar melhor conservada, a Quinta La Porteña, antiga residência do governador das Ilhas Malvinas, Luis E.Vernet, e o Museo, Biblioteca y Archivo Histórico “Dr. Horacio Beccar Varela”, onde se cantou pela primeira vez o Hino Nacional Argentino.


Mas o imperdível é a mansão da Villa O’Campo, construída em 1891. O casarão que é mantido pela Unesco é esplendoroso por sua história, arquitetura e jardins. O lugar foi a casa de veraneio da família O’Campo e posteriormente (1942) residência de Victoria O’Campo, que a herdou da madrinha - a tia Pancha (já não se fazem mais madrinhas assim...). Intelectual, tradutora, escritora e sempre a frente do seu tempo, Victoria foi a primeira mulher a ter carteira motorista na Argentina e teve a coragem de, naquela época (1920), se separar do marido e viver uma relação secreta -- mas nem tanto -- com o primo dele, que durou 13 anos.

Reduto de pensadores reconhecidos mundialmente, a Villa guarda objetos e móveis originais, inclusive um piano utilizado por Stravinsky, quando esteve na casa como hóspede de Victoria, cadeiras de Le Corbusie, seu amigo, e peças incríveis, moderníssimas, misturadas a móveis de época. Ela passou dois anos na França em lua-de-mel, comprando móveis - presente de tia Pancha.

A mansão recebeu ainda personalidades como Indira Gandhi, Tagore, Roger Caillois, Pablo Neruda e inúmeros outros.

Temos o mesmo gosto só não tive a mesma madrinha
A administração da Villa oferece visita guiada de quarta a domingo, a partir das 14h. Se programe para não deixar de tomar o chá, servido entre 15h30 e 17h30, na cafeteria, que tem mesas internas e para o jardim, com louças e pettit fours que revivem a atmosfera da época de forma deliciosa. A Victoria doou a casa com todos os seus 12 mil livros para isso: manter e efervescência cultural. Inclusive, você pode fazer uso da biblioteca e ver seus exemplares com as dedicatórias.

E foi assim que já posso dizer que fui hóspede da Victoria O’Campo por uma tarde.



Os óculos que viraram sua marca registrada

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