segunda-feira, 8 de abril de 2013

Buenos Aires de Bicicleta



Este domingo o céu de Buenos Aires estava irretocável: com um azul intenso, sem nuvens, um sol brilhante, ressaltando o colorido do outono, que deixou as folhas das árvores numa escala de tons que vai do amarelo ao laranja. Nem parecia que há uma semana a cidade estava um caos após a tormenta que inundou vários bairros. E se depois da tempestade vem a bonança, aqui ela chegou acompanhada do frio. Foi como se tivessem ligado o ar-condicionado central da cidade. Clima perfeito para pedalar porque é possível andar quilômetros sem verter uma única gota de suor. Eis o segredo das bicicletas dominarem as paisagens de cidades europeias – o clima.

É verdadeiramente desestimulante pedalar com aquele calor úmido ensopando suas roupas, a não ser que seja absolutamente por prática esportiva. Buenos Aires, com seus parques imensos e bem cuidados, circulados por ciclovias recém-construídas e agora com um clima favorável, é um convite aos ciclistas de fim de semana como eu. E convite feito, é convite aceito. Estendi a proposta à milha filha e ela topou. E assim, sem muitos planos, nem estudos de trajetos, nem compromissos com horários, saímos com as nossas “bicis” para brindar o dia.

Vale dizer que nem toda Buenos Aires está com ciclovias, mas o governo iniciou um programa chamado Mejor em Bici e por meio dele é possível, com o número do passaporte, tomar emprestado bicicletas e deixa-las depois nas estações, semelhante ao que já existe no Rio. A pré-inscrição pode até ser feita no site do governo. Lá também tem um mapa das estações de bicis para download. Alguns circuitos turísticos já estão com boa infraestrutura para ciclistas.

Meu roteiro 


A primeira ideia era sair da minha casa, que está próxima ao estádio do River, e dar uma volta no Lago Regatas do Parque Belgrano, mas estava tão agradável que resolvemos explorar mais.

Fomos acompanhando a ciclovia: passamos pelo Hipódromo Argentino, pela praça Holanda, já em Palermo, e paramos um pouco no Planetário Galileo Galilei, onde estava tendo um show beneficente, em favor dos desabrigados de La Plata, distrito mais prejudicado com o último temporal.

Ficamos por ali alguns minutos, curtindo o som de bandas de roque locais e vendo a mobilização das pessoas para carregar caminhões imensos com toneladas de doações que chegavam a todo instante.

Malba: um passeio obrigatório


Em seguida, decidimos por continuar nossas pedaladas até o Malba – Fundação Costantini, ainda em Palermo. O museu, que é dedicado à arte latino-americana do século XX, é um passeio imperdível para não dizer obrigatório. O Malba foi uma ideia do milionário argentino Eduardo Constantini, que o construiu por meio da fundação que leva o seu nome.

O acervo reúne mais de 500 obras dos principais artistas modernos e contemporâneos do nosso continente, dentre as quais se destaca a tela da nossa Tarcila do Amaral, o Abaporu, considerada a obra brasileira mais valorizada no mundo, depois que Constantini a arrematou por US$ 1,5 milhão. 
Abaporu:tem lugar de destaque no Malba

Camila admirando Frida
Mas Tarcila não está só no Malba. Junto com ela estão um Di Cavalcanti e um Portinari belíssimos. Um autorretrato da Frida Kahlo, um Botero e muitas obras do Antônio Berni, das quais gosto especialmente da Manifestación, também fazem da visita ao museu um banho de cultura, desses que lavamos a alma e os olhos. 

O prédio em si já é uma obra de arte da arquitetura. Foi construído a partir de um concurso público que escolheu o melhor projeto. Todo branco, deixa sobressair o colorido das obras e os planos envidraçados ainda permitem uma luminosidade natural interna que favorece ainda mais a visibilidade.


Shopping Passeo Alcorta

Área infantil no solar
Depois da visita, já tomadas pela fome, pedalamos até o shopping Passeo Alcorta, que fica na quadra ao lado do Malba. Esse centro comercial é mais sofisticado: tem um bom mix de lojas e uma praça de alimentação muito agradável, com um solar para quem preferir desfrutar do seu almoço ao ar livre, com direito a uma vista do bairro.
O charme do Passeo Alcorta

Depois de dar uma olhada nas vitrines e da Camila entrar num surto consumista com as novidades da moda inverno, achei melhor alimentá-la rapidamente. Quando começamos a achar que precisamos de tudo que vemos, o melhor a fazer é mesmo comer. Destruímos 20 peças de sushi e sashimi e o bom senso voltou a reinar.

Reabastecidas, tomamos nosso caminho de volta para casa com o sol de fim de tarde dando outro colorido às paisagens. E chegamos bem antes do anoitecer, sem nenhum sinal de cansaço. Foi um domingo simples e perfeito. Ou seria simplesmente perfeito?

4 comentários:

  1. Muito bom!
    Esse programa vamos ter que repetir, ahahahah!

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    1. Perdeu playboy! rsrsrsrs... Brincadeira... Vamos sim. Eu adorei. E tem outros roteiros que podemos fazer. Já estou estudando.

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  2. O Abaporú é hors-concours! Mas a artista carioca Beatriz Milhazes bateu o recorde de quadro mais caro da pintura brasileira com a venda de " Meu Limão Meu Limoeiro" na Sotheby´s. Vi uma exposição dela na Caixa Econômica. Tenho até medo de falar e ser linchada, mas sinceramente? Mil vezes a Tarsila!Se estivesse viva, certamente, seus quadros não deixariam cancha para a Milhazes, nem para Adriana Varejão!

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  3. Sim, vc tem rezão. Mas também as duas artistas estão vivinhas da silva e podem, ainda, ter outras obras tão valorizadas ou mais do que a "Meu limão". No entanto, a obra da Tarcilla, pelo que representa na arte brasileira, pela sua raridade,certamente, se fosse novamente a leilão, custaria bem mais, acho que seria incalculável. Já imaginou leiloar uma Mona Lisa? Essa obras acabam transcendendo o valor comercial.

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