sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Mendoza, parte I: Alta Montanha

Em sua edição de fevereiro, a revista Wine Enthusiast Magazine, uma das mais importantes publicações especializadas em vinhos, apontou Mendoza como um dos 10 melhores destinos de turismo de vinho do mundo. E não é para menos. A cidade tem muito mais a oferecer do que a bebida em si, que vale salientar, é da melhor qualidade. É lá, na região de Cuyo que está sendo produzido o melhor Malbec do mundo. Mas a enologia vem embalada num pacote que envolve uma gastronomia elaborada, turismo de aventura e de experiência para fazer valer cada Peso gasto.

De janeiro até o final março é justamente a melhor época para ir até Mendoza porque é neste período que acontece a vindima, que é a colheita das uvas, culminando com a Festa Nacional da la Vendímia, sempre no primeiro sábado de março. São os meses que a cidade fervilha com uma agenda de eventos intensa. Mas se não der para ser assim, não tem o menor problema porque em cada estação do ano a cidade oferece cenários e atrações distintas. Se no verão é possível fazer rafting e ver o melhor dos parreirais, no inverno é o momento de esquiar. E se as parreiras secam, o clima fica ótimo para beber e compensa tudo.

Lobby do Diplomatic
Hospedagem

Eu fui em novembro, quando já estava começando o verão e as uvas estavam madurando. Fiquei muito bem instalada no Diplomatic, que é um dos melhores hotéis da área. É lindo, confortável, com um café da manhã, que para argentino, está acima da média. Falo isso porque só os hotéis brasileiros oferecem aquela fartura toda. Então, já vá balizando suas expectativas para não se decepcionar.

Os quartos confortabilíssimos, mas os serviços de Spa que o hotel oferecia eram inexistentes. Não havia profissionais suficientes para a demanda e foi impossível encontrar horário na agenda. Mas o pior foi a má vontade do concierge em passar informações – imperdoável para uma hospedagem dessa categoria. Um ponto positivo é que as principais vinícolas da região oferecem degustações no próprio hotel, além de ele estar super bem localizado.

Mesmo sem a ajuda do simpático e prestativo concierge, foi difícil escolher o que fazer em meio a tantas opções: calvadas, participar de uma aula de cozinha nas vinícolas, piquenique em meio aos parreirais, caminhada, passeios de bicicleta, rafting até passeio de balão tem. Decidi centrar no básico para não perder o foco e ter tempo de curtir o essencial do destino que é beber, comprar vinho e comer bem.


Paisagens desérticas
Em busca do Aconcágua

Mas antes de cair de boca, separe um dia para fazer o passeio da Alta Montanha, que começa pela Ruta 52, antigo caminho utilizado pelo Exército Libertador para chegar ao Chile, por onde ingressamos na pré-Cordilheira e subimos até a fronteira entre os dois países. É um mergulho na aridez da paisagem medoncina, que tem como marco inicial as ruínas de um antigo portal, que indica o ponto onde o lendário General San Martín dividiu suas tropas para cruzar os Andes.

 
Há opção de ir pela Ruta 7, que é toda asfaltada e, portanto, mais rápida. Mas o legal mesmo é ir pela 52 e voltar pela 7. Assim o passeio fica mais completo. A partir das ruínas começamos a subida até Villavicencio, pasando pelos “Caracoles”. São 365 curvas, beirando o precipício, até chegar 3 mil metros sobre o nível do mar. 


No caminho nos encontramos com inúmeros guanacos, o primo irmão da lhama e vimos de perto o Hotel Villavicencio, que atualmente está fechado, mas sua fachada estampa as embalagens da água mineral mais famosa daqui, que leva o mesmo nome do lugar. 

Los Caracoles, uma curva para cada dia do ano
De lá, subimos até a cruz de paramillos, onde está um mirante que nos permite uma visão ampla da cordilheira dos Andes, com o Aconcágua despontando. É pura emoção vê-lo. 


Vista das cordilheiras vista da pré-cordilheira
O roteiro prossegue até o povoado de Uspallata, quando entramos de fato na cordilheira e subimos até atingirmos o povoado de Las Cuevas, na fronteira com o Chile, passando pelo túnel internacional. A rota acompanha o trajeto do Rio Mendoza.

Puente del Inca

Antes, porém, tem a Puente del Inca – um lugar impressionante, onde há muitos anos existia um hotel termas. Abaixo da ponte, uma formação rochosa natural, ainda se pode ver a termas, famosa por suas águas curativas com temperaturas de 34 a 38 graus centígrados. Já o hotel foi totalmente destruído por uma avalanche em 1965.


A cor amarela do monumento se deve a alta concentração de enxofre da água, capaz de petrificar qualquer objeto que for deixado por algum tempo exposto. E vários desse objetos estão à venda nas barraquinhas de artesanato, de bonés a bolas. Curioso, mas uma tranqueira.

De lá o Aconcágua também nos acompanha quase todo o tempo e podemos vê-lo tão de perto que dá para entender o fascínio que esse colosso exerce sobre os montanhistas do mundo inteiro.

A volta é pela Rota 7, passando pelo Potrerillos, um grande dique, com uma paisagem deslumbrante, sucesso nas temporadas de inverno por suas instalações e proximidade dos centros de esqui. Todo passeio leva um dia inteiro e é bem cansativo, então não elabore programações noturnas que vá além de um bom jantar.

Se eu tivesse tido mais um dia de estadia, o teria reservado para ir até San Rafael e ver de perto o Cânion de Atuel e se fosse passar a semana, teria ido ao parque de águas termais também. Como não tinha, preferi gastar o resto do tempo e do dinheiro nas bodegas e restôs, mas essa deliciosa experiência eu dividirei com vocês no próximo post. Aguardem.    

Vista do Aconcágua
Panorâmica de Potrerillos

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sucre de Fernando Trocca

Estava curiosa para conhecer o Sucre, principalmente, depois que soube que o Fernando Trocca é o chef do restô. Assim, não tive dúvidas quando a minha amiga Fernanda Macedo disse que queria jantar numa lugar especial quando chegasse em Buenos Aires para comemorar o aniversário da irmã. Fui lá e fiz a nossa reserva.

Fernanda e o Fernando
O Fernando Trocca é um dos chefs mais badalados de Buenos Aires. É ele quem treina e elabora os cardápios da cadeia de restaurantes mais exitosa da Argentina, o Gaucho, que tem 14 casas na Inglaterra, uma em Dubai e outra em Beirute. Além disso, é um dos chefs do Canal Elgourmet. Curto sua página no Face e até já arrisquei algumas de suas receitas.

O fato é que parece que o Trocca fez a fama, deitou na cama... E acho que deu uma cochilada. O restaurante é lindo, de fato. Ele trouxe para o ambiente do Sucre todo o clima nova-iorquino, de onde por anos comandou a cozinha do badalado Vandam. Iluminação intimista, ambiente refinado e moderno. E o que mais gostei foi do bar, com uma carta de drinks realmente interessante. Eles usam o mesmo gim do Floreria Atlântico, que adoro e já falei aqui.


No entanto, confesso que fiquei um tanto quanto decepcionada com a variedade de pratos disponíveis. A carne é o forte da casa, mas não achei nada extraordinário, a não ser o preço. Não gostei do ponto do meu corte e de acompanhamento, acabei comendo uma salada verde sem graça por falta de opção.

Devo ter pedido mal, mas o fato é que, para dezembro, quando Buenos Aires está em pleno verão, senti falta de algo mais leve e saboroso. A carta de vinho é boa, mas os preços, como tudo lá, são caros. Para brasileiro, considerando que estamos falando de um restaurante com chef estrelado, está muito bem, mas devo dizer que já comi melhor e pagando menos, ou pelo menos o mesmo tanto, em muitos outros lugares.

O melhor da casa é o bar
O atendimento também foi amável e ainda topamos com o Trocca em pessoa. E Fernanda, mais rápida do que pude imaginar, não perdeu a oportunidade de registrar o encontro, e isso foi a melhor parte da noite, além de obviamente da chance imperdível de estar com uma amiga tão querida. Não posso falar da sobremesa porque não pedimos, mas o restô fica do lado do Nucha, que é uma das melhores docerias daqui, e pode ser melhor opção para os horários de almoço.

Quanto ao Sucre, talvez não tenha tido sorte porque outras pessoas pediram outros pratos e gostaram, ou foram ao menos educadas. Talvez tenha que lhe dar uma outra oportunidade porque sei que Trocca tem muito mais para mostrar do que o que está alí. Talvez mude minha opinião se for novamente. Talvez, se você tiver tempo, também possa conhecê-lo em sua visita a Buenos Aires, e me diga o contrário... Mas só talvez, mesmo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Verão em Buenos Aires


Se tivesse que escolher um período para vir a Buenos Aires, certamente não seria no verão. Primeiro porque nos últimos anos a cidade tem sofrido muito com as ondas de calor. A última, em dezembro, foi a pior dos últimos 20 anos. Depois, porque a maioria dos argentinos vai embora da cidade (o que para alguns, pode ser uma grande vantagem). Mas como estou vivendo aqui e na minha timeline do Facebook só aparecia foto de praias e mais praias brasileiras, fui ver de perto o que o portenho faz nessa época, além de ligar o ar-condicionado na última e se mandar para Mar del Plata.



Com as temperaturas bem mais agradáveis por esses dias, como deve ser normalmente, fui dar umas pedaladas por Nuñez, que por ser o bairro mais afastado do burburinho da cidade, quase turista nenhum conhece. E me deparei com uma grata surpresa. A prefeitura armou um balneário no Parque de Los Niños, uma área verde às margens do rio da Prata. E achei excelente!



No espaço a prefeitura colocou a disposição da população, totalmente de graça, guarda-sol, espreguiçadeiras, chuveirinhos, brinquedos de água para a criançada, jogos para adolescentes como tênis gigante, guerra de água, campos de futebol de areia e vôlei, música, dança. Uma onda gigante é a sensação da garotada. A estrutura está muito bem montada e em cada estação tem recreadores organizando a brincadeira. 

Os acessos são controlados e bebidas alcoólicas não são permitidas. Também há espaços reservados para quem gosta de pescar.

Não dá para tomar banho no Rio, claro, apesar de muita gente ignorar os riscos de água contaminada e da existência de piranhas (las palometas). A praia urbana já é uma tradição por aqui e funciona desde 2009 e é uma prova de que evento popular não precisa ser pobre, feito de qualquer jeito. Cidadania é isso, entretenimento democrático e não populista, de qualidade. Lembrando que o governo da província nada tem haver com o Governo Federal. A praia urbana vai funcionar até 4 de março, das 10h da manhã até às 20h.