quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal em Buenos Aires


Galeria Pacífico na Florida: um raro frescor de Natal na cidade
Aqui em Buenos Aires, se não fosse por poucas lojas que expõem artigos natalinos em sua vitrine, você nem saberia que é Natal. Aqui não vi grandes decorações públicas nas ruas ou qualquer movimentação a respeito. Nem mesmo as propagandas da televisão são tão emotivas. O que me surpreendeu. Eu, que adoro Natal, senti falta até da Simone cantando “Então é Natal...” só para você ter ideia do nível de abstinência.

Aqui eles reservam esta data para realmente comemorar em família. E sem parentes ou velhos amigos por perto, a saudade aumenta. E tenho que dizer que senti também muita falta do... Panetone de chocolate. Aqui eles têm o torrone, que acho horrível, e o “pan dulce” que é um parente panetone, feito de frutas e castanhas, que não pode faltar de jeito nenhum. Mas o de chocolate, acho que é uma invenção brazuca mesmo, que não é muito chegado nas frutas cristalizadas. No máximo você terá que se contentar com um de doce de leite que encontrei na Havanna. É o que tem para hoje.

Programa de Natal aqui é fundamentalmente ficar em casa com a família. Tem um monte de restaurantes que oferece ceias variadas, mas até para isso eles são meio lentos e indecisos. Os cardápios, preços e etc só começam a ser definidos lá para segunda semana de dezembro e para quem quer se programar para vir, fica difícil. Talvez uma ida a Terra Santa, que é um parque temático ao estilo de Fazenda Nova, em Recife, Pernambuco, pode ser bacana, que é para lembrar de quem é de fato o dono da festa.

O problema é que Buenos Aires ferve nessa época. E não é eufemismo. As temperaturas chegam a 38 graus, um sol de rachar a moleira, um bafão que te dá até uma “fiaca” de sair de casa... A cidade fica em alerta vermelho por conta das “olas de calor”. Falta luz, água e este ano teve até saques em lojas e supermercados em muitas localidades, sinais mais aparentes de que crise, Natal e calor é uma combinação que deixa as pessoas meio loucas.

Quem pode, vai embora para as praias argentinas, uruguaias, brasileiras ou Punta Cana, que parece ser o destino da moda por aqui este ano, e a cidade, aos poucos, vai esvaziando. Quem fica, espera anoitecer para fazer alguma coisa e a cidade depois das 20h fervilha. Para se ter uma ideia, no dia 23 tem a “Noite dos Shoppings”, quando os principais centros comerciais ficam abertos até as 4h da madrugada, fazendo queimas relâmpagos que podem chegar a 50% do preço da etiqueta. É uma farra consumista.

Ao final, decidimos que passaríamos em casa. E pela primeira vez em muitos anos, passamos o Natal só nós quatro: eu, marido e filhos. E não foi nada mal. Acostumada a receber gente nessa época ou a ir a festas nas casas de amigos e parentes, achei que iria estranhar... Mas não. Fiz uma ceia gostosa, coloquei uma mesa linda, nos arrumamos, brindamos, trocamos presente e foi muito gostoso. A meia-noite, a vizinhança, que até então parecia indiferente a data, iniciou uma queima de fogos em diversos pontos, que podemos acompanhar do alto do nosso edifício.

Hoje, dia de Natal de fato, fiquei pensando no que poderia dar de presente aos argentinos e aos brasileiros. Coisas que os dois povos, certamente gostariam de receber um do outro. Por exemplo: o Lula, o nosso ex-presidente. Eles aqui o amam! Eu o enviaria em um belíssimo papel de presente. E nem precisariam nos dar nada em troca. Aliás, seria um favor não retribuir.
Inesperada queima de fogos meia-noite

Eu daria, aos meus amigos brasileiros, Bariloche, e em troca mandaria Búzios para os argentinos, ambos já estão sendo invadidos de qualquer maneira mesmo pelos dois. Seria legal ter no Brasil um balneário para esquiar de vez em quando, tomar chocolate quente. Eles nos deram um presentão esse ano, que foi o Papa Francisco. E tem outro presente que eles iriam adorar, mas esse não vai dar... A Copa. Devolvemos o papa, não tem problema. Alguém terá que dar consolo espiritual para eles no próximo ano.

Provocações futebolísticas a parte, a verdade é que só desejo coisas boas para os argentinos que tão bem me receberam – uma caipirinha para aliviar a tensão, dois beijinhos ao invés de um só, sandálias Havainas e coxinha com Catupiry. Para os brasileiros o cheiro de jasmim que invade Buenos Aires, um amor intenso como um Malbec e uma vida doce, como um alfajor.